segunda-feira, 26 de março de 2012

Meu sertão, meu violão


Belarmino
Ritinha, nosso Brasil
tá na mão duma muié.
Pra dá certo vô torcê
com a força da minha fé.

Sinhá Rita
Na mão da Dirma Roussef
o país vai só pra frente,
pois as muié tem um jeito
de governá diferente.

Belarmino
Inda num vi nada bão,
só vejo resto do Lula.
Seguino as orde do chefe,
ela se esconde e se anula.

Sinhá Rita
Vancê tá muito enganado!
A Dirma é forte muié.
Sem o Lula percebê,
vai chegá aonde quer.

Belarmino
Ela faiz aquele alarde,
diz que não qué o malfeito,
só põe e tira ministro,
E fica do mesmo jeito.

Sinhá Rita
Nada disso! Ela nomeia
gente boa de verdade.
Iscoieu a Graça Foster
que é lá da nossa cidade.

Belarmino
Nunca vi cassá ministro
e chorá na despedida.
Isso é coisa de muié
quando fica arrependida.

Sinhá Rita
Admiro a nossa Dirma!
E o mundo lhe faz agrado!
Na abertura da ONU,
ela brilhou no recado!

Belarmino
Vamo pará de brigá
e ir pro nosso cantinho.
O importante na vida
é ter amor e carinho.

Sinhá Rita
Com o Lula ou sem o Lula,
a Dirma vai governá.
Mas eu sem vancê, meu bem,
Já não sei o que será.


Carece de explicação
Meu sertão, meu violão é um diálogo entre o marido e a mulher. Eles são da roça e vivem um casamento feliz, embora haja divergências de ideias entre eles. No fim, como acontece nos casamentos felizes, eles acabam fazendo as pazes na cama. Se houver uma palavra mais “caliente”, peço perdão, fica tudo por conta do carinho.

Chico Anysio


Chico Anysio

Morre Chico Anysio, o inimitável, o grandioso, o gênio.
Nascido no Ceará, veio para o Rio de Janeiro aos 7 anos de idade, já demonstrando um pouco do artista que seria: gostava de imitar as pessoas e fazer piadas.
Por 65 anos dedicou-se à arte de forma eloquente, exercitando os múltiplos dons. Foi humorista de primeira grandeza, ator, compositor, cantor e pintor.
Trabalhou no rádio e na tv. Na Globo, ficou conhecido do  grande público como mestre do humor. Criou 209 personagens, numa demonstração de sua genialidade. Cada uma de suas criações, além de divertir as pessoas, representava momentos da vida cotidiana e traduzia um pouco de todos nós. Com sensibilidade, entendia e adivinhava a alma do brasileiro.
Não fazia, apenas, o humor comum que arranca risos pela criatividade da piada, mas o humor com causa e meta por denunciar o que andava errado no país.   Incomodado com a injustiça, fazia críticas, sátiras, deboches com a força do talento, tornando seu texto tão simpático e necessário, que nem mesmo foi censurado pela ditadura militar, antes, tornou-se amigo de presidente Figueiredo pela sutileza em dizer verdades.
Interpretando o impagável professor Raimundo com sua escolinha, agradou  telespectadores de todas as idades, sagrando-se  ícone do humor inteligente.  Nesse quadro, deixou claros o desprendimento e a solidariedade ao resgatar os atores antigos e dar oportunidade aos novos. E todos se dizem credores de seus ensinamentos e sua amizade.
Suas músicas foram cantadas por grandes interpretes e suas telas expostas em museus e mostras do país.
Um artista único de nosso tempo com grandes atividades, ainda deixa marcas de sua notável dimensão humana. Generoso com os colegas, dedicado à família e humilde diante do sucesso.  Foi gentil e grato até no último desejo. Pediu que metade de suas cinzas fosse para a terra natal, e que a outra metade ficasse no Projac – centro de gravações da rede Globo – onde trabalhou durante o tempo mais fecundo de sua vida, alavancou a audiência e conquistou amigos para sempre.
Em recente entrevista, disse: “não tenho medo da morte, tenho pena.”  E nós também sentimos pena de perder um artista tão completo, uma pessoas tão cheia de lições. Pena de perder alguém que, por tantos anos, alegrou a vida da gente.
Vai fazer falta. E, por ser irrepetível – como definiu Ziraldo – não haverá outro. No lugar vazio, o conforto no verso do poeta: “é melhor sentir saudades do que caminhar vazio.” E que saudade!