quinta-feira, 12 de julho de 2012

No escurinho do cinema…


         A pretensa demolição do Cine Brasil causou alvoroço na cidade. E com razão. Ele faz parte da Memória de Caratinga e é uma obra de arte. Inaugurado em l947 retrata o estilo arquitetônico da época.
          Guardar a Memória é guardar a história do povo e preservar sua identidade. Gente sem Memória é sem raízes. O povo sem passado é povo cujo futuro é sempre um recomeço sem lições.  Os países mais desenvolvidos do mundo sabem da importância de se preservar o passado, e guardam prédios importantes, artes e elementos originais de cultura como relíquias.
     Como exemplo, temos a catedral que foi tombada e preservou as características arquitetônicas da obra – belíssimo cartão postal da cidade. Também, o Palácio do Bispo que, restaurado, guarda a beleza do passado, e a antiga casa de Dr. Agenor Ludgero Alves transformada em Casa de Cultura pela família Leitão.   Muitas cidades erguem prédios guardando a carcaça da obra primitiva.
     Vejo muitas pessoas confundindo tombamento com demolição. Tombamento é a restauração da obra que poderá servir para os mesmos fins anteriores ou para outros fins de igual valia, sem descaracterizar os antigos valores. Demolição é destruir a obra.
          Dos tempos áureos do Cine Brasil, não há caratinguense que não tenha lembranças de filmes, espetáculos teatrais e cantores famosos passados por essa casa de espetáculos. Caratinga e redondezas viveram momentos inesquecíveis de entretenimento. Quantos casais se beijaram no escurinho do cinema… Não só saudades das inocentes carícias fazem a importância do local, mas toda a trajetória de progresso.
          Ainda bem que a justiça, sensível à questão, sabedora do valor de um bem histórico e atenta ao clamor do povo, suspendeu a ação. O tombamento – assinado antes pelo prefeito – dará melhor destino ao estabelecimento. 
          Manifestações de repúdio à demolição dão conta da insatisfação dos caratinguenses daqui e de todo país. Está visto: o Cine Brasil mora no coração da gente.
          No mesmo dia em que houve a questão do Cine Brasil, fomos sacudidos pela notícia do desligamento do Edra da Casa Ziraldo de Cultura. É difícil ver outra pessoa governando o tesouro que o Edra concebeu, lutou por ele e inaugurou depois de tantos esforços e tanta dedicação. Nós acompanhamos a realização do projeto, desde o nascimento à conclusão. Conhecemos de perto sua luta, seu idealismo, seu sofrimento mesmo. Sim. Muitas vezes o vimos triste diante das impossibilidades, das dificuldades que, a cada dia, se interpunham entre seu sonho e o desencanto. Mas com fé, lidas, orações da mãe santa e companheira, ele venceu etapas e seu ideal tomou forma e se fez verdade. Dirigia a Casa com zelo, entusiasmo e brilho nos olhos, recebendo visitantes e eventos a mostrar o benefício que o espaço trazia ao povo.
          Sabemos que o novo dirigente é capaz para exercer o cargo, mas o que está em jogo, não é a tarefa de conduzir o estabelecimento. Trata-se da ética – ciência do bem e do bom. Ela lida com valores e sua palavra de ordem é o respeito. E do respeito surgem outros valores, como a igualdade, a liberdade, a consideração. 
          A Casa Ziraldo de Cultura tem a cara do Edra e guarda a alma dele em cada canto, em cada detalhe. Penso que o novo dirigente vai se sentir um pouco deslocado, como se carregasse um anel apertado no dedo, ou um sapato largo no pé.
          Diante desse fato, meu pensamento busca Julimara, primeira-dama, que soube tão bem se conduzir por todo tempo do governo do marido. Lidamos com ela em muitas comemorações e no dia a dia, e sabemos da sensibilidade e elegância de seus gestos. Ela sempre considerou os valores eternos que devem nortear a conduta humana. Por sua força junto ao mandatário maior do município, sei que poderá intervir com sucesso e levar em conta o trabalho e o talento do Edra.   Aguardemos.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Duelo de Titãs


          Com vistas às eleições municipais, o quadro político acaba de ser definido. João Bosco não concorre à reeleição e o PT aponta Juarez Gomes de Sá com o vice ainda indefinido. Aluísio Palhares não se candidata a prefeito e ainda não se manifestou publicamente sobre apoio. Pelo visto, a disputa acirrada será mesmo entre Ernane e Marco Antônio. Será um duelo entre forças igualmente poderosas. Um duelo de titãs marcará a campanha.
          Eleitores dos dois lados torciam por um acordo entre ele, sabendo-se que tinham a mesma linha de pensamento e mesma parcela do eleitorado.  Companheiros desde sempre, Marco Antônio foi secretário de saúde no governo Ernane e dividiram  o mesmo palanque na eleição passada. Agora os dois que, se estivessem juntos, consolidariam uma vitória presumidamente expressiva, seguem separados.
          Ernane é um nome forte. Seu governo realizou obras, apoiou a Educação e Cultura de forma eloquente, consolidou a saúde com muitos melhoramentos. Foi um tempo de progresso e bem-estar da população. Traz como vice Rafael Lima, o Rafa, presença que soma por se tratar de um empresário de sucesso.
          Marco Antônio, figura também muito forte, traz na testa a estrela da honradez, juventude, valores familiares e esperança. É sangue novo a jorrar energia e ideias inovadoras. Traz na bagagem os bons serviços prestados como secretário de saúde nos governos Dário Grossi e Ernane, ganhando elogios e prêmio no âmbito nacional. Carrega ainda mais dois trunfos. O primeiro é o de ser caratinguense de nascimento e vida. Embora um bom prefeito independa desse fator, a de se cobrar de um filho legítimo da terra maior responsabilidade. O outro trunfo é o apoio do deputado Mauro Lopes. Um precioso apoio. Confere à candidatura de Marco Antônio segurança e força a futuros projetos. O vice é Odiel. Conhecedor do mundo político, já foi vereador e presidente da Câmara. Simpático e dinâmico, tem eleitores cativos.
          Aí  está uma difícil escolha, mas seguindo a Cartilha do Voto Consciente, editada pelo MAC, acharemos boas dicas.
          Uma certeza nos alenta: a campanha será de alto nível. Os candidatos são muito éticos e saberão se conduzir bem. Na verdade, proclamar defeitos não é construtivo e pode ser uma faca de dois gumes, isto é, tanto poderá prejudicar o adversário expondo seus erros, como ajudá-lo na condição de vítima. O que conta mesmo é apresentar uma boa e viável plataforma de governo.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Palpite infeliz


         Carlos Carraro despediu-se do público de seu programa no Super canal. Na última edição o comunicador esteve descontente defendendo-se das acusações que lhe foram feitas pelo jornal “O olheiro” – noticiário do Pará, apreendido logo depois de circular pela cidade.
        O assunto que me traz aqui hoje é sobre um pequeno ponto das acusações que – penso – merece considerações. Trata-se da humilhação. Odeio humilhações! E o articulista foi infeliz ao citar a pouca escolaridade como impedimento ao bom desempenho de uma profissão.
          É claro que, hoje, quem tem mais leitura e estudos terá maiores chances de sucesso profissional e pessoal. Mas daí a dizer que quem não tem diploma universitário não tem valor, é engano. E grande engano! Existe uma potencialidade chamada inteligência emocional. Um fator que alavanca qualquer pessoa rumo a seus objetivos. Na prática, ela significa garra! E quem a tem rompe barreiras e chega lá!  Até pessoas com diploma superior e mestrado necessitam dessa garra para vencer.
          A cultura e a sabedoria são também adquiridas no dia a dia, na prática, nos convívios, no fazer, na curiosidade, no desejo de acertar, na leitura de livros, na leitura de mundo.  A teoria só se completa na experiência. E a inteligência, da qual somos todos dotados, permite descobrir, ampliar, inventar, exercitar o conhecimento, mesmo fora da escola.  Do contrário, estaríamos na idade da pedra.
          Hoje, há muitas facilidades para quem deseja estudar, mas, no passado, nem todos os pais podiam dar aos filhos estudo acadêmico completo. O que deveriam fazer esses filhos? Desanimar? Não procurar trabalho? Não se inserir no mercado de trabalho e deixar de contribuir com a sociedade? É claro que não! E o exemplo de pessoas que são realizadas e fazem bem à cidade e ao país, não tem conta. Do simples gari ao ex-presidente da república.
          Carraro é um homem de realizações. Há 26 anos edita o jornal “A Semana”. Já promoveu eventos de sucesso, com o “Maió e Mió” e outros acontecimentos sociais. É corajoso. Não se esconde sob máscaras ou pseudônimo. De cara à mostra, fala o que muita gente gostaria de falar. Não se omite, não cruza os braços.  Se há algum excesso em sua fala, ele tem conseguido segurar as consequências.  Defende suas ideias e é gente nossa!
          Lamentamos sua saída do programa da TV, mas acreditamos em sua volta. Desejamos continue no jornal e em promoções que tragam alegria e diversão ao povo. E ele sabe realizá-las muito bem.

Homenagem a Caratinga


           Caratinga está de aniversário. 164 anos de vida.
        Como falar da terra da gente?  Quais as palavras que poderei usar para falar dignamente da terra natal, do berço que acalantou e acalanta nossos sonhos?  Como conseguir a palavra mágica para descrever o amor de um filho por sua terra-mãe?   Todo gesto ameno será pequeno, toda palavra será pouca e cala na boca, porque não há expressões que possam traduzir com fidelidade o que é Caratinga, o que são seus filhos, meus irmãos de afeto e de solo com os quais convivo harmoniosamente.   Só mesmo de forma superficial, levemente, poderei falar do amor único que se dilata em mim, em nós que aqui nascemos ou vivemos.
          Caratinga é nossa casa. E casa da gente é o único lugar no mundo onde somos nós mesmos, sem artifícios ou formalidades.  Casa da gente é o lugar onde se chega e se pode tirar os sapatos, desabotoar o casaco, desapertar o nó da gravata.
          Caratinga é nossa casa maior onde convivemos com uma família maior. É aqui que vivemos, sonhamos , realizamos e somos felizes. Aqui é o lugar de rir e chorar, de errar e de acertar, de perdoar e amar. A mais esplendorosa cidade, não se iguala a nossa, ainda que humilde e pequena. Um paraíso dentro dos montes que a cercam. O grande poeta Fernando Pessoa, sob um de seus heterônimos Alberto Caieiro, escreveu lindamente: “O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia. Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”. Nem precisava buscar tão longe um exemplo de preferência de um filho por sua terra. O poeta maior de Caratinga, Max Portes, já poetou em seu livro dedicado a nossa terra: Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, todo lugar tem palmeiras, não as palmeiras de lá.           Nós podemos falar dos defeitos de Caratinga, mas se pessoas de fora disserem, é uma briga. Como nos faz mal!    Isso porque cidade da gente é abraço de mãe a estender afagos. Cada canto conta um conto, canta um canto de paz.  Cada rua conta a história da gente e candonga nossos segredos.     
            Caratinga é uma cidade progressista e boa para se viver. A parte física agrada aos olhos e a sensibilidade.  A Itaúna, a catedral, a Fafic, A Fic, as ruas, a iluminação, o asfalto, as flores, a praça ornamentada por palmeiras que desde sempre caracterizaram Caratinga. Só que para que existisse essa parte física tão bonita, com exceção da parte natural, foi necessário o material humano. 
Houve um sonho, um projeto e a realização que dependeram da vontade e das mãos humanas. Figuras de destaque construíram e constroem Caratinga, ontem e hoje.
          Há de se lembrar também do anônimo. Mãos anônimas edificaram tudo quanto existe aqui. No escondido, na simplicidade, no anonimato houve trabalhadores que derramaram o suor de seu trabalho colocando tijolo por tijolo nas pequenas e grandes construções, nas ruas de paralelepípedos, hoje asfaltadas. O professor que, mesmo com seu pequeno salário, formou gerações nas lições das salas de aula, dia após dia.         
            Caratinga é grande porque seus filhos são grandes. Tudo depende de nós. Manuel Bandeira, o grande poeta modernista escreveu um maravilhoso poema a sua terra natal, que diz:
          
            “Saí menino de minha terra / Passei 30 anos longe dela.
          De vez em quando me diziam:
             Sua terra está completamente mudada.
          Tem avenidas e arranha-céus / É hoje uma bonita cidade.
          Meu coração ficava pequenino.
          Revi afinal o meu Recife.
            Está de fato completamente mudado.
          Tem avenidas e arranha-céus / É hoje uma bonita cidade.
          Diabo leve quem pôs bonita a minha terra”.

            O poeta não gostou de ver as mudanças de sua terra porque queria encontra-se consigo mesmo nas dobras do passado. Queria rever sua infância, as ruas sem calçamento, a quitanda, a luz fraca dos candeeiros. Queria o passado para matar saudades.
          Mas para nós que vivemos aqui e assistimos ao desenvolvimento de Caratinga. Para nós que vivemos o dia a dia aqui, acompanhando cada mudança e desejando que tudo mude para melhor. Para nós que não sentimos saudade, sentimos o abraçar constante de nossa terra rumo ao progresso, pensamos diferente. Plagiando Manuel Bandeira, numa outra visão dizemos: Caratinga está completamente mudada. Tem avenidas e arranha-céus. É hoje uma bonita cidade. Deus abençoe quem pôs bonita a minha terra.