sexta-feira, 18 de abril de 2014

Gabriel García Márquez


Morre o grande escritor colombiano Gabriel García Márquez. Nascido em Aracataca em 06 de abril de 1928,  é um dos escritores mais admirados e traduzidos do mundo, considerado, também, um dos escritores mais importantes do século XX.   Vendeu mais de 50 milhões de exemplares traduzidos em 36 idiomas.
Escritor, jornalista, editor e ativista político, era conhecido como Gabo. Estudou Direito e Ciências Políticas, mas abandonou os estudos para se dedicar ao jornalismo.
Criado pelos avós maternos, que exerceram grande influência sobre suas obras,  ouvia deles histórias fantásticas de magia e encantamento. Morrendo-lhe os avós, foi morar com os pais aos oito anos de idade. Casado com  Mercedes Barcha Pardo desde 1958, tiveram dois filhos, Rodrigo e Gonzalo.
Ganhador de muitas condecorações literárias, foi agraciado com o prêmio Nobel de Literatura em 1982 pelo conjunto de sua obra.   Tendo vasta criação literária, destacam-se: Cem anos de solidão, O amor nos tempos do cólera, O outono do patriarca, Memórias de minhas putas tristes, Relato de um náufrago, Crônica de uma morte anunciada, A  incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada, O autobiográfico Viver para contar.
Passou a juventude lendo. A obra “Metamorfose” de Franz Kafta  impressionou-o muito e, após a leitura do livro em que a personagem se transforma em um inseto, ele disse: “Então, é possível escrever histórias tão diferentes e surreais.” A partir daí, perseguiu as narrativas que o tornaram notável.
            É representante máximo do realismo fantástico, também denominado realismo mágico ou realismo maravilhoso. O livro “Cem anos de solidão” é considerado ao lado de Dom Quixote de Miguel de Cervantes, um dos livros mais importantes da literatura espanhola.  O estilo que o consagrou é povoado de elementos mágicos que não possuem nenhuma explicação para existirem. Um personagem pode acontecer no futuro e se repetir no presente. Por ser mágicos, os fatos são surreais, mas vistos pelos personagens como fatos normais e convencionais. Intuição e previsões surgem como dons próprios dos seres humanos. Criar situações impossíveis foi a tônica de sua mente criadora.
Falou de si mesmo de forma divertida: “Sou escritor por causa da timidez. Minha verdadeira vocação é ser mágico, mas fico tão encabulado tentando fazer os truques, que tive de me refugiar na solidão da literatura.” 
Sua morte repercutiu no mundo inteiro. Escritores, jornalistas, chefes de Estado, pessoas do povo. Todos sentiram seu desaparecimento. Isabel Allende, escritora chilena, disse que ele é o escritor mais importante da América Latina, a voz do realismo mágico e o pilar da explosão da literatura latino-americana.  Mia Couto, escritor moçambicano falou: “Sua obra se coloca acima da vida, por isso ele não morreu”. A presidente Dilma Rousseff  manifestou-se: “ Gabo conduzia o leitor pelas ruas de Macondes imaginária como quem  apresenta um mundo novo a uma criança.”
Ele partiu, mas deixou-nos o melhor de sua vida: livros eternos e preciosos. Fiquemos com a dádiva de suas histórias e com a sabedoria de sua palavra: “Aprendi que todo mundo quer viver no topo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma com ela é escalada”.  Diante da lástima de perdê-lo, repetimos um de seus pensamentos: “Não chores porque já terminou, sorria porque aconteceu.”

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Jesus, ontem e hoje


Com devoção e esperança, a Igreja recorda a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, por meio das quais Ele salvou a humanidade de seus pecados.
Voltemos ao tempo de Jesus e lembremos sua morte motivada pelos poderosos e governantes que não aceitaram a pregação do Mestre. Sua doutrina representava mudanças. E as grandes e importantes figuras da época não queriam mudanças, tão contrárias à conduta reinante. Os opositores não suportaram a pregação coerente de Jesus, pautada na verdade e na justiça. Seus ensinamentos ameaçavam a força política da época, os poderosos para os quais não era conveniente soltar as amarras do poder e do dinheiro.
Vejamos. Ensinava a partilha de alimentos e de bens materiais. Os possuidores de bens e fortunas não queriam despojar-se das riquezas.  Lembremos aquela passagem em que um jovem rico perguntou a Jesus o que deveria fazer para entrar na vida eterna, já que ele cumpria todos os mandamentos e se considerava um pessoa correta. Jesus, então, disse-lhe que vendesse tudo o que tinha, repartisse o dinheiro com os pobres e o seguisse. O jovem ficou entristecido porque era rico, e seguiu o seu caminho.
Ensinava servir a todos os necessitados: “Não vim para ser servido, mas para servir.” O reis e governantes em vez de lutar pelo bem, tiranizavam o povo.
Outra conduta decepcionante para os poderosos: o ideal da fraternidade universal que sugere o amor para com todos, pecadores e inimigos. Qual rei daquela época, acostumado ao abuso de poder e a maltratar os inimigos, suportaria seguir esta proposta: “Quando te baterem na face, dá-lhes a outra.” Ou então aceitar o que está escrito em Mateus 18-21: “Senhor, quantas vezes eu devo perdoar meu irmão? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete.”
Muitos, então, não aceitavam Jesus. Principalmente os fanáticos, os poderosos, os violentos e os hipócritas. Os fanáticos – aqueles que não mudam, ainda que seja para o bem de todos.  Criticaram Jesus por ter curado em dia de sábado. Ele perguntou: “Há alguém entre vós que tendo uma única ovelha e esta cair num poço no dia de sábado não irá procurar e retirar? Arrematou dizendo: “É pois permitido fazer o bem no dia de sábado.” Jesus colocou os pobres, pecadores e os enfermos acima do sábado, como para mostrar que a salvação e a felicidade de todos são mais importantes que as convenções.     Os poderosos eram os que mais o rejeitaram. Em João (11 – 47,48) vemos: “Os pontífices e os fariseus convocaram o conselho e disseram: Que faremos? Este homem multiplica os milagres. Se o deixarmos proceder assim, todos crerão nele, e os romanos virão e arruinarão nossa cidade e toda a nação.”   Também os violentos figuravam no rol dos desafetos, e sabiam usar a força: “Pilatos para satisfazer o povo soltou-lhe Barrabás e entregou Jesus, depois de açoitado, para que fosse crucificado (Mateus 15-15).    Os hipócritas não conseguiram enganar a Jesus: “Ai de vós, doutores da lei, que dais aos homens pesos que não podem carregar, mas vós mesmos nem sequer com um dedo vosso tocais os fardos” (Lucas 11-46).  E em outra passagem Ele chamou os fingidos de sepulcros caiados. Maquiam o rosto com ares de bondade para esconder a maldade de dentro.
Recordando, ainda, esses fatos memoráveis, celebramos na quinta–feira santa a instituição da eucaristia. Reuniu os apóstolos na última ceia, benzeu o pão dizendo: “Isto é o meu corpo que será entregue por vós”. Benzeu o cálice e disse: “Isto é o meu sangue, sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós para remissão dos pecados.  Fazei isso em minha memória.”
Depois de condenado, Jesus orou ao Pai e, cheio de profunda angústia, suou sangue que escorreu pela terra. Sofreu açoites, coroação de espinhos e, ao peso da cruz, subiu ao calvário. Ironizado pelos soldados e, entre dores atrozes, gemidos e solidão, exclamou: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.”     Houve trevas e tremores de terra. Os que assistiam ao martírio disseram: “Este é de fato o Filho e Deus.” Depois de três dias de sua morte, ressuscitou. Para espanto dos amigos, os lençóis estavam espalhados no túmulo vazio. Depois de subir aos céus à vista dos apóstolos, enviou-lhes o Espírito Santo.
Hoje, passados mais de dois mil anos, a humanidade continua crucificando-o. Mas o exemplo de sua paixão está vivo a nos exortar e surpreender.
Em nossos dias, o apego aos bens materiais continua presente impedindo-nos de abrir as mãos em ajuda concreta. A corrupção de políticos e governantes tira-nos a certeza de dias melhores. A hipocrisia dos palanques em que as promessas ficam só nos discursos, revolta-nos. Quantas falcatruas para não dar lugar aos honestos.  Fidelidade é coisa do passado. E a violência? Já se tornou corriqueira gerando um descaso total com a vida humana. Barbaridades são cometidas a cada hora sem a devida punição. Tudo como nos tempos passados. Com antes, também hoje, o povo depende dos que governam e, por isso, vive pagando impostos sem retorno, sem Saúde e Educação.  Só nos resta, para não perder a esperança, viver a eucaristia e fazer dela o nosso alimento de ânimo e fé. Viver a Páscoa com a alegria de quem acredita na força do milagre.
Enquanto não chega o júbilo da Páscoa, vamos nos detendo na cruz do Cristo e pensando nas palavras de Santo Agostinho: “Vale mais uma lágrima de piedade derramada em memória da Paixão e Morte de Cristo do que fazer mil peregrinações a Jerusalém e jejuar durante um ano.” Confiando na misericórdia e no poder do sangue redentor de Jesus, desejo a todos, uma feliz e santa Páscoa.


quarta-feira, 2 de abril de 2014

Violência contra a mulher


Em recente pesquisa sobre preconceito e violência contra a mulher, o resultado causou espanto. Entre, 3,8 mil entrevistados, 58% responderam que a mulher, quando usa roupa que mostre o corpo, merece ser molestada.  Houve indignação e até revolta por parte de pessoas com o mínimo senso de respeito. Vejam só o disparate: culpar a própria vítima pela agressão! Sabendo-se que o estupro é uma das mais sórdidas agressões contra a mulher.
A violência veio do preconceito. É cultural a posição de inferioridade da mulher, chamada pejorativamente de sexo frágil. Desde tempos remotos, ela é tida como aquela que só podia usufruir de um direito: servir o homem.  E essa posição de dependência, rendeu-lhe lágrimas, sofrimentos e, às vezes, a perda da própria vida.
Até nos evangelhos há uma passagem em que os homens queriam apedrejar uma pobre mulher pega em adultério. Quanta hipocrisia! Consideravam-na pecadora, e o homem que se envolveu com ela e a fez adúltera, não foi condenado. O pecado era só dela. Mas Jesus, misericordioso e justo, disse: “quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe atirar uma pedra”. E todos saíram em silêncio.
Mas os tempos passaram e, como tudo no mundo, os conceitos foram mudando, muitas vezes pela ação de mulheres corajosas que derrubaram barreiras e fizeram descortinar horizontes novos de esperança. Devagar, foram conquistando espaço e igualdade com o homem. Hoje, estão presentes em todas as atividades da vida humana. E têm mostrado tão eficientes quanto eles.
Embora as conquistas sejam grandes, ainda persiste a violência contra a mulher. O tipo que mais assusta é a violência doméstica que tem causado vítimas a cada minuto.  Os crimes passionais – na maioria das vezes praticados por homens que não aceitam a separação – enchem os noticiários. O machismo continua acompanhando o homem fazendo-o agressor e vítima.  Digo isso porque o homem que não governa a si mesmo é uma vítima de suas emoções descontroladas. Que vexame para um homem ter de usar a força física para estuprar uma mulher que não o ama, ou não quer fazer amor com ele...
A lei Maria da Penha, que ampara a mulher ameaçada e pune o agressor, tem ajudado muito, mas não tem sido efetiva. Segundo uma das psicólogas que coordena o setor, esse tipo de crime acontece, ainda, porque a mentalidade do homem não mudou. E a mentalidade não se forma de um dia para o outro, é um conjunto de crenças e hábitos de espírito que informam e comandam o pensamento de uma coletividade, comum a cada membro dessa coletividade. Demanda tempo.
Pasmem! Entre os 58% que se manifestaram daquela forma, não há só homens, mas também mulheres. Pensei bem e cheguei à conclusão que os homens integrantes daquela percentagem devem ter desvios sexuais graves. E as mulheres devem ser aquelas que já perderam o encanto, ou não os tem, por isso invejam as belas que podem se vestir com charme e sensualidade.
Continuemos nossa caminhada de luta. Enquanto esperamos pela vitória total, lembremo-nos de que só poderemos escolher caminhos, se tivermos a liberdade que vem do conhecimento. Quase sempre as mulheres oprimidas não procuram ajuda por medo de represália, ou porque não podem se sustentar.  Estudar, ler e se preparar para o mercado de trabalho são as formas mais seguras de garantir a liberdade.
Uma certeza nos alegra: os homens só serão completamente felizes, quanto todo mundo for feliz.