domingo, 28 de fevereiro de 2021

Relacionamento aberto

 

Atualmente está cada vez mais adotado o relacionamento aberto entre os casais. Não é um comportamento desconhecido. É sempre citado o relacionamento, no século passado, dos filósofos franceses Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Viviam em casas separadas, sem filhos e permitindo envolvimento amoroso com outras pessoas.

Hoje a relação aberta é adotada por muitos casais que justificam: “Os casais vêm perdendo o interesse em se fechar em contato a dois, cheio de possessividade. O amor na monogamia vai perdendo força com o passar do tempo, pois a grande atração do princípio vai se diluindo com a rotina, e o amor vai se transformando com o tempo de convívio”.

As relações abertas modernas são consensuais e igualitárias praticadas por casais que admitem contato sexual com outras pessoas, mas mantendo o esposo ou esposa como prioridade.

A psiquiatra Carmita Abdo – grande profissional no assunto – diz: “Há pessoas que não se adaptam à exclusividade e precisam buscar alternativas para viver um relacionamento saudável.” Carmita pondera: “Mas não é todo mundo que admite um relacionamento aberto. Demanda muito equilíbrio entre as partes, comunicação, maturidade e desapego.”

O conceito de família começou a existir há cerca de 5 mil anos, com o estabelecimento da propriedade privada e, consequentemente, com a herança. Daí veio a imposição de fidelidade e o surgimento do amor romântico, que vigora até hoje.

A juventude atual explora a sexualidade muito cedo e ainda conta com as redes sociais e os aplicativos de namoro que aumentam a possibilidade de conhecer outras pessoas e marcar encontros sexuais. Isso ajuda a desejar um casamento aberto.

Acredito que o casamento monogâmico faz com que a família esteja mais unida pela vida toda. E isso é bom para os filhos e para o casal que pode fazer a união ser eterna. Penso que o casamento aberto só ocorre para satisfazer o desejo sexual, pois o carinho e a amizade são alimentados no casamento comum. O casamento monogâmico acabará sendo um arranjo fora de moda.

Penso: justamente a fidelidade sexual, que é tão importante, é que será retirada dos relacionamentos abertos. E a infidelidade tem sido causa de tantos sofrimentos e término de casamentos. Talvez por isso queiram inovar fazendo da fidelidade uma condição sem importância.

Embora se respeite os que adotam essa nova postura, será difícil entendê-la se somos tradicionais e com a moral baseada nos ensinamentos religiosos. O tempo vai contar se esse tipo de amor dará certo.

Marilene Godinho

 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

A pandemia favorece o divórcio

 

Segundo as recentes pesquisas, está havendo muitos divórcios por causa da pandemia. De acordo com os psicólogos, o convívio intenso durante o isolamento tem sobrecarregado física e emocionalmente as famílias no Brasil e no mundo.

Nessa época de pandemia, o divórcio é mais pedido pelas mulheres, segundo estatísticas. E a reclamação frequente é a tripla jornada. Essas mulheres trabalham, cuidam da casa e dos filhos. Não aguentam relacionamentos machistas, pois muitos homens não ajudam em tarefas de casa.

O aumento de convívio gera aumento de conflitos. Diante das separações, perguntamos: Onde está o amor?  Lembro-me, então, do que disse um famoso psicólogo: “O amor não sustenta um relacionamento, é o bom relacionamento que sustenta o amor.” Sabemos, também, que o amor é como uma planta que necessita de água, sol , limpeza e outros cuidados para crescer e ficar bonita.

         Antes, os casais levavam bem as diferenças porque não passavam o tempo todo juntos. Saíam para o trabalho, para encontrar amigos, para uma escapadela que dava leveza ao relacionamento em casa. Agora, não. No contexto de união absoluta, coisas pequenas ficam grandiosas. Ele fuma demais, ele não levanta bem a tampa do vaso sanitário, briga muito com os filhos. Ela reclama muito, distrai das tarefas de tanto que fica no celular, não procura fazer pratos variados  para as refeições.

A causa maior desses divórcios está no que afirmam os psicólogos: os divórcios, nessa época, ocorrem com casais que já enfrentavam problemas antes. O convívio intenso só aumentou os problemas já existentes.  O lockdown levantou o véu que ofuscava a verdade sobre alguns casamentos.  Pois, na verdade, há muitos casais que continuam unidos e muito bem. A pandemia os uniu porque souberam usar o relacionamento como recurso nesse momento de crise. Os casais que cuidaram do amor como planta rara,  têm conseguido passar bem esse período.

Uma lição que a pandemia deixa para os casais.  Desde  antigamente, o casamento é  considerado como uma conquista. Depois de realizado, os casais se acomodam na sensação de que atingiram o objetivo. E não investem na relação, não criam situações agradáveis na convivência, na motivação e no romantismo.  Quando na verdade, o casamento é o início do processo de conquista.

Investir na felicidade do casamento ajuda a manter o amor em qualquer situação.

Marilene Godinho

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Campanha da Fraternidade


O texto-base da campanha da Fraternidade 2021 tem causado indignação e polêmica. A CF sempre foi realizada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e considerada um momento importante na espiritualidade católica.
A primeira Campanha da Fraternidade foi realizada em 1962 em Natal, Rio Grande do Norte. Depois, a CNBB continuou na realização da CF, que sempre ocorre na quaresma. A cada 5 anos é promovida de forma ecumênica, incluindo outras denominações cristãs. Os textos que norteiam a Campanha têm constituído um documento importante porque o tema escolhido sempre define a realidade concreta a ser transformada, apresentando também um lema que explica em que direção se busca a transformação.
Este ano a CFE não foi feita pela CNBB. Foi entregue ao CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), que reuniu pessoas de várias religiões dando um sentido ecumênico. O tema é: Fraternidade e diálogo: compromisso de amor. O lema é: Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade.
Os que não concordaram com a CFE de 2021 alegam que o texto, as entrelinhas, os argumentos não correspondem aos ideais da Igreja Católica. Fazendo parte do CONIC para essa tarefa, seria justo haver valores católicos. Acham que não há nem o estilo nem a espiritualidade do catolicismo. Logo de início, analisando os componentes do CONIC, vemos que dois padres católicos fazem parte dele, os outros sete pertencem a outros credos. Ressaltam, ainda, que a presidente-geral é a Pastora Romi Márcia Bencke, muito criticada por ser a favor do aborto, da teoria de gênero e outras práticas condenadas pela igreja católica. Ela não seria a pessoa indicada para o ofício de redatora sendo figura de destaque do CONIC.
No texto há referência a uma grande alegria ocorrida em 2017: a comemoração dos 500 anos da Reforma. Lembrando que a Reforma marcou o cisma causado por Lutero.
Há referências às mulheres que acompanharam Jesus e o ajudaram na missão. Não houve nem mesmo uma simples citação do nome de Maria, mãe de Jesus. Nem nesse parágrafo, nem em nenhum outro. É um lapso imperdoável, sabendo do grande amor e respeito que o catolicismo dedica à Maria.
Quando o CONIC procura exemplificar pessoas e fatos sobre a violência, citam Mariele Franco e a população LGBTQI.
O cardeal Dom Odílio Scherer se posicionou em defesa da Campanha, dizendo que é preciso que sejamos capazes de aceitar sem preconceitos. Alertou que é uma Campanha Ecumênica. Depois de ampla defesa, disse que até ele mesmo não concordava com certos pontos do documento.
Já o bispo Dom Odair José Guimarães foi totalmente contra em sua mensagem. Disse que o melhor a fazer é esquecer esse documento, pois tudo que vai contra os valores da Igreja católica, não prospera, como aconteceu com a Teologia da Libertação.
Li muitas vezes o texto-base. Muito bem redigido, contendo informações valiosas e estatísticas que norteiam as propostas. As citações do evangelho são precisas para elucidar os fatos de antes frente aos de hoje. Entendo que há, realmente, um discurso não condizente com os ensinamentos da Igreja católica.
Penso que nós, católicos, não devemos nos deter nas diferenças. Não podemos prejudicar nossa quaresma – tempo de penitência, oração e conversão, caridade. Prepararmos para a Morte e Ressurreição de Jesus com o espírito de amor, mas jamais nos esquecermos que ecumenismo é respeitar as diferenças, sem abrir mão de nossos valores. Com certeza, na próxima Campanha da Fraternidade, a CNBB estará mais cuidadosa e teremos a alegria de reviver a espiritualidade e as propostas que sempre marcaram as Campanhas anteriores.
Marilene Godinho

domingo, 7 de fevereiro de 2021

O aborto novamente em pauta

 


Há pouco, a Argentina legalizou a prática do aborto no país. Estabelece que as mulheres têm direito de interromper a gravidez até a 14ª semana de gestação.  Passa a ser o 67º país a ter o aborto legalizado, argumentando que “o aborto seguro, legal e garantido por lei amplia os direitos das mulheres e garante a saúde pública”.

Diante dessa legalização, as discussões sobre o aborto retornam.

Por ser católica, preocupo-me com a parte religiosa, sobre os ensinamentos de Deus. Busco a doutrina oficial da Igreja que, sobre esse ponto, é terminantemente contra, taxativa e se propõe como definitiva.

O ponto principal da argumentação da Igreja é a defesa da vida, reiterada como um princípio absoluto, imutável e intangível. A existência de uma pessoa humana, sujeito de direitos, desde o primeiro momento da concepção, é o pressuposto para se considerar a interrupção da gravidez como um ato homicida em qualquer momento da gestação e sob quaisquer condições.  A sacralidade da vida humana e a condição da pessoa do embrião fundam a condenação incondicional do aborto, integrando argumentos de ordem religiosa, moral e biológica.

A condenação da interrupção voluntária da gravidez funda-se numa proposição de fé, segundo a qual a vida humana tem caráter sagrado por ser um dom divino.  O papa Paulo VI, citando Pio XII, não deixa dúvidas: “Cada ser humano, também a criança no ventre materno, recebe o direito de vida imediatamente de Deus, não dos pais, nem de qualquer sociedade ou autoridade humana”. Atentar contra a vida é atentar contra o próprio Deus. Do direito à vida derivam todos os outros direitos.

Uma vez que, segundo o magistério da Igreja, desde o primeiro momento de fecundação há uma pessoa humana completa, o aborto torna-se um ato moralmente inaceitável e condenável, verdadeiro homicídio. E provocar a morte de um ser humano inocente constitui uma situação de tríplice injustiça: contra a soberania de Deus, único Senhor da vida; contra o próximo, que é privado do direito de existir como pessoa; e contra a sociedade que perde um de seus membros.

O documento de 1984 da CNBB: “Por ser um supremo dom natural de Deus, todo ser humano deve ser preservado desde o primeiro instante da concepção, sustentada, valorizada e aprimorada. São inaceitáveis, como atentado contra a vida humana, o aborto, o genocídio, a eutanásia, a tortura, a violência física, psicológica ou moral, assim como qualquer forma injusta de mutilação”.

No Brasil, essa prática não virá tão cedo, pois os governantes e a maioria do povo são contra o aborto. Preocupa-nos a situação atual dos Estados Unidos, pois o novo presidente, Joe Biden, é a favor do aborto. Isso significa que o número de mortes de crianças será imensamente grande. Considerando que a maioria das mulheres faz do aborto um anticoncepcional e, pelas recentes pesquisas, mais de 20 mil crianças foram mortas por aborto, considerando os países que o adotam.  

Só nos resta rezar para que Deus nos ajude e ajude a tantas crianças que poderão morrer.  Os abortistas dizem que o aborto é uma conquista da mulher. Imaginem, uma conquista de matar!  E a vida continua e, a cada dia, vemos atos absurdos acontecendo. Só mesmo um milagre poderá conter tantas vidas interrompidas.

Os católicos esperam que o papa Francisco pronuncie sobre o assunto, já que ele é argentino e é uma voz potente digna de consideração. Quanto mais houver vozes contra o aborto, mais as mulheres poderão se conscientizar, pois a lei que legaliza o aborto não precisa ser usada pelas mulheres que não concordam com ela. 

Marilene Godinho