quinta-feira, 4 de abril de 2013

Entrevista de Marilene Godinho para a revista Polo Regional





1-    Com que idade a senhora descobriu a vocação para ser escritora infantil?  A senhora teve incentivo de algum familiar? Fale um pouco sobre o início de sua carreira.
R- Desde criança sempre gostei de escrever, inventar poemas e contos. Lembro que aos 9 anos, mais ou menos, escrevi minha primeira historinha, a pedido de Irmã Ludowina – uma freira organizadora das festas do meu Colégio do Carmo. Daí em diante, sempre que precisavam de um texto com linguagem infantil, as professoras me procuravam.  Acredito em que a participação em teatros, em declamações de poesias, em contação de histórias, em dança e corais, tenha estimulado em mim o gosto por textos, pois todo tipo de arte aguça e imaginação e nos faz compor um texto, às vezes com palavras, às vezes em outras formas de linguagem.
       Minha família sempre me deu total apoio em tudo que faço.
       Embora gostasse de escrever, nunca pensei em publicar. Escrevia por escrever.  Pelo fato de eu ser professora e lidar com crianças, escrevia para meus alunos histórias diferentes das que se contavam comumente. Um dia, meu irmão, Cléber, sugeriu que eu publicasse meus contos que, segundo ele, poderiam divertir as crianças. Procurei, então, a editora Comunicação, especializada em literatura infantil. O editor era André Carvalho, um homem muito inteligente, iluminado, bom escritor e cheio de sonhos e entusiasmo. Recebeu-me com atenção, gostou dos contos e, logo, os publicou.  Continuei escrevendo e as portas sempre estiveram abertas para mim.

2- Como foi a aceitação do seu primeiro livro? Teve algum livro que causou maior entusiasmo nas crianças? Fale um pouco sobre ele.
R – Tive muita sorte. O Balão Azul, meu primeiro livro, foi recebido com entusiasmo aqui e em outras cidades nas quais a editora distribuía.
No princípio é tudo mais difícil, mas, no meu caso, sendo a primeira autora de livros infantis da cidade, causou curiosidade. Depois tudo foi se ajeitando.   Míriam Mangeli Ferreira foi a primeira diretora de escola que me convidou para falar aos alunos e levar meu livro. Bajane foi a primeira professora que adotou o Balão Azul na escola Estadual Menino Jesus de Praga.   E há um amigo, a quem devo favores e gentilezas. Trata-se de Humberto Luiz Salustiano Costa que me prestigiou com a presença no lançamento da obra, explicando a todos os presentes como era um lançamento de livro. Além disso, abriu-me as páginas do Jornal de Caratinga, com a aprovação de Eurico Gade, para propaganda e acolhimento às minhas crônicas. Há um fator essencial no impulso à minha carreira: o apoio dos meus amigos. Minha terra, sempre generosa comigo, marcou presença em minhas festas e leu com carinho todas as minhas obras. Além do povo, as escolas são um incentivo ao meu trabalho.
         Todos os livros são bem vendidos aqui e em outros lugares. O primeiro, Balão Azul, causou impacto por ser o primeiro. Depois veio “Uma canção de amor para Tiago”, muito comentado por ser uma história real. E o “Lua de rapadura” faz a cabeça de muitas crianças por ter linguagem da roça e ser um livro alegre. Também, por ser feito de poemas. As crianças são lúdicas, por isso se encantam com o jogo de palavras e rimas.

3- Quantos livros a senhora já lançou e quantos ainda pretende lançar? Tem algum lançamento novo em andamento? Fale um pouco sobre esse projeto.
R – Já editei 31 livros. E para este ano, precisamente, no dia primeiro de junho estarei lançando duas obras: “Roupa mágica do palhaço”, cujo projeto gráfico é do grande escritor e artista Marcelo Xavier, e “Asas de menino”.   Dois livros para comemorar os 35 anos de minha primeira publicação. Pretendo fazer uma grande festa e espero todos os amigos.

4- Sabemos que a senhora e o Ziraldo só lançam livros infantis. Vocês trabalham em sintonia?
 R – Não trabalhamos em sintonia.  Admiro muito o trabalho de |Ziraldo e sua obra. Ele é um gênio.  Devo a ele gentilezas impagáveis. Ilustrou  meus dois primeiros livros e prefaciou o Balão Azul.  Além disso, foi  presença importante no lançamento do primeiro livro no Rio de Janeiro. Deu-me a maior força e ainda levou o Grande Otelo para me prestigiar. E foi em nome da gratidão que o homenageei , anos atrás, pelo “Menino maluquinho” e, recentemente, pelos oitenta anos de vida.  Organizei toda a festa, contei com a presença bonita das escolas e o resultado foi gratificante. A festa agradou a cidade a ao Ziraldo que, até hoje, agradece emocionado.

5 – Sabemos que toda leitura é uma viagem ao mundo do conhecimento. Deixe uma mensagem de incentivo à leitura para as crianças de hoje.
R – Minha mensagem às crianças é sempre para dizer que leiam muito. O livro é fonte de prazer e conhecimento. E o conhecimento liberta porque forma a consciência crítica do indivíduo e o capacita a administrar suas escolhas, seu trabalho e seu convívio com todos. “Um país se faz com homens e livros”, foi o que disse o grande escritor Monteiro Lobato, pai da literatura infantil. Na criança, o hábito de leitura, tão importante à sua formação, só acontece pelo prazer. Por isso, pais e escola devem colocar muitos livros nas mãos dos pequeninos, para que, desde cedo, eles tenham intimidade com o livro, como acontece com os brinquedos. E o prazer ocorre enquanto a criança lê, já que os livros infantis são bem cuidados, interessantes e feitos para atrair o pequeno-leitor. Então, a leitura torna-se uma viagem ao mundo do conhecimento que se apresenta revestido de fantasia, cores e palavras. E aí acontece o milagre do livro: quanto mais se lê, mais se quer ler.
       
            Agradeço ao Mário Soares pela oportunidade de falar sobre meu trabalho e minhas obras.  Sucesso a sua revista.