Caratinga
está de aniversário. 164 anos de vida.
Como falar da terra da gente? Quais as palavras que poderei usar para falar
dignamente da terra natal, do berço que acalantou e acalanta nossos
sonhos? Como conseguir a palavra mágica
para descrever o amor de um filho por sua terra-mãe? Todo gesto ameno será pequeno, toda palavra
será pouca e cala na boca, porque não há expressões que possam traduzir com
fidelidade o que é Caratinga, o que são seus filhos, meus irmãos de afeto e de
solo com os quais convivo harmoniosamente.
Só mesmo de forma superficial, levemente, poderei falar do amor único
que se dilata em mim, em nós que aqui nascemos ou vivemos.
Caratinga é nossa casa. E casa da
gente é o único lugar no mundo onde somos nós mesmos, sem artifícios ou
formalidades. Casa da gente é o lugar
onde se chega e se pode tirar os sapatos, desabotoar o casaco, desapertar o nó
da gravata.
Caratinga é nossa casa maior onde
convivemos com uma família maior. É aqui que vivemos, sonhamos , realizamos e somos
felizes. Aqui é o lugar de rir e chorar, de errar e de acertar, de perdoar e amar.
A mais esplendorosa cidade, não se iguala a nossa, ainda que humilde e pequena.
Um paraíso dentro dos montes que a cercam. O grande poeta Fernando Pessoa, sob
um de seus heterônimos Alberto Caieiro, escreveu lindamente: “O Tejo é mais
belo que o rio que corre pela minha aldeia. Mas o Tejo não é mais belo que o
rio que corre pela minha aldeia. Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha
aldeia”. Nem precisava buscar tão longe um exemplo de preferência de um filho
por sua terra. O poeta maior de Caratinga, Max Portes, já poetou em seu livro
dedicado a nossa terra: Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, todo
lugar tem palmeiras, não as palmeiras de lá. Nós
podemos falar dos defeitos de Caratinga, mas se pessoas de fora disserem, é uma
briga. Como nos faz mal! Isso porque
cidade da gente é abraço de mãe a estender afagos. Cada canto conta um conto,
canta um canto de paz. Cada rua conta a
história da gente e candonga nossos segredos.
Caratinga é uma cidade progressista
e boa para se viver. A parte física agrada aos olhos e a sensibilidade. A Itaúna, a catedral, a Fafic, A Fic, as
ruas, a iluminação, o asfalto, as flores, a praça ornamentada por palmeiras que
desde sempre caracterizaram Caratinga. Só que para que existisse essa parte
física tão bonita, com exceção da parte natural, foi necessário o material
humano.
Houve
um sonho, um projeto e a realização que dependeram da vontade e das mãos
humanas. Figuras de destaque construíram e constroem Caratinga, ontem e hoje.
Há de se lembrar também do anônimo.
Mãos anônimas edificaram tudo quanto existe aqui. No escondido, na
simplicidade, no anonimato houve trabalhadores que derramaram o suor de seu trabalho
colocando tijolo por tijolo nas pequenas e grandes construções, nas ruas de
paralelepípedos, hoje asfaltadas. O professor que, mesmo com seu pequeno
salário, formou gerações nas lições das salas de aula, dia após dia.
Caratinga é grande porque seus
filhos são grandes. Tudo depende de nós. Manuel Bandeira, o grande poeta
modernista escreveu um maravilhoso poema a sua terra natal, que diz:
“Saí menino de minha terra / Passei
30 anos longe dela.
De vez em quando me diziam:
Sua terra está completamente mudada.
Tem avenidas e arranha-céus / É hoje uma
bonita cidade.
Meu coração ficava pequenino.
Revi afinal o meu Recife.
Está de fato completamente mudado.
Tem avenidas e arranha-céus / É hoje uma
bonita cidade.
Diabo leve quem pôs bonita a minha
terra”.
O poeta não gostou de ver as
mudanças de sua terra porque queria encontra-se consigo mesmo nas dobras do
passado. Queria rever sua infância, as ruas sem calçamento, a quitanda, a luz
fraca dos candeeiros. Queria o passado para matar saudades.
Mas para nós que vivemos aqui e assistimos
ao desenvolvimento de Caratinga. Para nós que vivemos o dia a dia aqui,
acompanhando cada mudança e desejando que tudo mude para melhor. Para nós que
não sentimos saudade, sentimos o abraçar constante de nossa terra rumo ao
progresso, pensamos diferente. Plagiando Manuel Bandeira, numa outra visão
dizemos: Caratinga está completamente mudada. Tem avenidas e arranha-céus. É
hoje uma bonita cidade. Deus abençoe quem pôs bonita a minha terra.