quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Letra de médico é fogo!


          Nós, professores, damos atenção especial à letra do aluno para que ele escreva legível. Nas primeiras séries, então, há metodologia própria para isso. Aliada à psicologia, determina a forma correta de o aluno adentrar a escrita. Antigamente havia até o caderno de caligrafia, usado até hoje, com linhas maiores e menores para letras maiúsculas e minúsculas.
          Muito bem. Depois de pelejar com aquele que não tinha traço legível, conseguíamos um bom resultado. A vida corre, esse menino cresce, estuda mais e se faz médico. Orgulhosos de termos contribuído de alguma forma para o crescimento dele. Um dia, vemos uma receita dele e nos deparamos com uma letra tão ilegível que nos perguntamos: “onde foi que nós erramos?”
          Fico pensando... Será que letra ilegível dá status? Ou será que o mistério que se esconde atrás da letra feia, atrai pacientes? Ou será, ainda, que ao ver aquela letra do outro mundo o doente acha que a força do além pode operar milagres?   Não sei. Só sei que na semana passada, uma amiga, muito simples, trouxe-me uma receita para eu ler.  Queria saber o nome do remédio receitado, e ouvir minha opinião. Abri a receita, olhei. A letra parecia hieróglifos da antiguidade. Estava bem explícita a frase: “ l caixa de couve e uma saca de palmito. Tomar de 12 em 12 horas.”  Como eu estava de muito bom humor, aproveitei-me da ingenuidade dela e resolvi levar na brincadeira. Disse: “ aqui está escrito “uma caixa de couve e uma saca de palmito”.  Ela arregalou os olhos e falou: “Ora, pois! O que vem a ser isto?” Afirmei: “o médico quer que você  coma couve e palmito.” Ela com cara de dúvida me perguntou: “Mas isto cura os ossos da gente?”  Segurei o riso e disse que couve tem muita vitamina. Apresentou-me a outra receita – eram duas – onde se lia o nome do remédio. E abaixo a dosagem sugeria o seguinte: “tomar um chope no ensexo.”  Então, li em voz alta:”Tomar um chope no ensexo.”  Ela botou a mão no coração e disse baixinho: “ onde já se viu isto, Marilene?”  Respondi: “Eu acho que o médico quer que você tome chope fazendo sexo!”  Ela, muito religiosa, se desesperou: “ Este dotô tá é maluco, sô!”   Não me contive e caí na risada. Ela viu que se tratava de uma brincadeira  e foi logo procurar uma farmácia.
          Admiro, profundamente, os médicos. Uma profissão de extrema grandeza por lidar com a vida e por evidenciar abnegações e competência. Eles são verdadeiros apóstolos da medicina, discípulos do altruísmo, da caridade, do bem maior. Não é a letra ilegível que irá macular a missão tão nobre de ouvir e curar. Só que acarreta dificuldades aos pacientes e, às vezes, aos próprios farmacêuticos.
          O melhor seria digitar a receita para não haver dúvidas. Os que não quiserem, devem dar dicas, como pingar o i, cortar o t e fazer três montanhas no m.
          Já pensou se minha amiga resolve fazer sexo tomando chope? Seria gostoso, é claro. Mas a doença permaneceria. E, quem sabe, mais adoentada ainda, ela nunca mais poderia tomar chope, nem fazer sexo.




quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Violência sem fim


A violência, sob todos os aspectos, assola o país e tem nos deixado perplexos e desesperançados.
Recentemente, o crime cometido contra uma família de policiais, cujo principal suspeito é o filho de 13 anos, chocou o Brasil e é notícia nos principais jornais do mundo.   A família, os vizinhos, amigos do casal e até professoras do menino, não acreditam na participação dele na chacina. Ele teria vitimado, além dos pais, a avó, a tia e logo depois cometeu suicídio.   Na verdade, é inacreditável que um adolescente normal, carinhoso com os pais  e com todos os  de seu convívio, tenha assassinado tantas pessoas de forma cruel, calculada e magistral. Para efetuar um crime como esse, sem deixar uma pista notória, só mesmo um indivíduo traquejado no ofício de matar. Diante da indecisão, as investigações prosseguem.
No entanto, o que nos faz debruçar sobre o assunto, não é somente o crime em si, mas são as questões levantadas por psicólogos, policiais de gabarito e investigadores experientes. Esses entendidos querem saber tudo sobre o comportamento do garoto. Se ele tinha intimidade com armas, com jogos violentos, se assistia a filmes de tensão, pois tudo isso pode atuar de forma negativa na mente dos jovens.  Mesmo que ele não seja o culpado, as indagações revelam que comportamentos instigadores da violência podem agredir a saúde mental de jovens e crianças.
São traços marcantes da adolescência a fragilidade das emoções, o desejo de descobertas, a inconsequência, o desejo de imitar ídolos.
Preocupa-nos a violência contra os jovens ou cometida por eles porque a juventude e a infância guardam a nossa esperança no futuro. Serão os futuros dirigentes da nação, os professores, os médicos, e os demais profissionais.   E expostos a tantos males, jovens e crianças são os mais afetados pela violência.  E o pior é que engrossam as estatísticas de mortalidade.
Nas estradas morrem muitos jovens por serem mais desafiadores. Os motociclistas – a maioria é jovem – têm causado caos no trânsito e perdendo a vida num transporte perigoso.
As drogas – outra forma de violência – ceifam a existência de nossa juventude e arruínam famílias.   O uso delas, hoje tão disseminado, compromete os estudos, a vida normal e a felicidade dos usuários. E o tratamento é difícil e requer dose extra de força de vontade.
            Grande parte dos acidentes de trânsito, de crimes passionais ou por vingança, e mesmo de crimes sem motivo, há sempre drogas promovendo as matanças. E lá se vão nossos jovens.   Ano passado, todo mundo ainda se lembra da morte de 246 jovens na boate kiss  em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Tudo por conta da violência com nome de descaso de autoridades e organizadores do evento.
          O que mais dói e desencanta é a violência contra crianças. Uma criança maltratada ou violentada leva marcas para o resto da vida.    Há pouco, assistimos ao hediondo crime contra um garoto boliviano. Chorando desesperado, estendia sua mãozinha frágil para o assaltante pedindo-lhe poupar sua mãezinha. Foi morto impiedosamente pelo criminoso.  Fatos como esse faz-nos pensar em Deus e pedir suas bênçãos sobre a humanidade. 
Diante de tragédias que levam vidas, que poderiam ser poupadas, pergunto a Deus o porquê de Ele não acudir as pessoas diante de tanta violência. Digo como Castro Alves em seu Navio Negreiro: Onde estás, Senhor, que não respondes?       Medito na evidência de ver as igrejas cheias de fiéis de todos os credos rezando numa corrente de boa vontade. E, mesmo assim, a violência continua.  Concluo que a oração tem de vir acompanhada da ação. Todos nós devemos trabalhar para diminuir as tragédias. Só depois de agirmos utilizando todas as ferramentas, é que nossa prece ganha sentido e toca o coração Daquele que não precisou de nós para criar o mundo, mas não o constrói sem nossa ajuda.



domingo, 4 de agosto de 2013

Papa Francisco

          Com sorriso inteiro no rosto simpático, o papa Francisco chega ao Brasil encantando a todos. Recepcionado com entusiasmo, o Rio de Janeiro parou e multidões acenavam-lhe e tentavam se acercar do carro que o condizia para vê-lo de perto e ganhar sua bênção.
          A presidente Dilma Roussef o recebeu com simpatia e fez bonito ao representar bem o povo brasileiro. O papa agradeceu a acolhida dos cariocas e, entre outras considerações, disse que Deus ama a juventude.
Em Aparecida, o evento revestiu-se de beleza e contentamento constituindo um momento único de comoção e fé. Nem mesmo a chuva conseguiu tirar o brilho da comemoração, pois intensa foi a expectativa do povo de sentir a presença do Santo Padre, de apreciar seus gestos espontâneos que, quase sempre, surpreendem. Mais que isso, todos desejavam ouvir sua palavra tão importante para a juventude e os fiéis. Ele que se revela humilde, generoso, pronto a combater a vaidade humana e exaltar os pobres e excluídos, certamente terá  uma palavra terna de orientação neste novo tempo.
          No santuário de Aparecida, rezou sua primeira missa pública em território estrangeiro, desde que assumiu o governo da Igreja. Seu primeiro ato foi o de se colocar aos pés da imagem original de Nossa Senhora Aparecida e, emocionado, consagrar-se a Ela, pedindo-lhe levasse ao Pai sua prece em favor dos jovens e da Igreja.      Na missa, a segunda leitura retirada do Gêneses, e o evangelho descrevendo as bodas de Caná, evocaram a presença da Mãe de Deus, de quem o papa é devoto.      Na homilia, ressaltou três valores que devem nortear a vida do cristão: conservar a esperança, deixar-se surpreender pelo amor de Deus e viver na alegria. 
          Ele, que fala tanto sobre as drogas, visitou uma instituição que acolhe dependentes químicos e recebeu de presente uma imagem de São Francisco de Assis – símbolo de desapego e paz.
Também insere em seus discursos a visão política dos acontecimentos. Exorta os políticos a agirem com o pensamento no bem comum. Que pensem nos males do nosso tempo, como o desemprego que tira do jovem um horizonte de possibilidades.
          Outro tema corrente em sua fala é sobre o valor das mães e das avós, por serem elas as primeiras catequistas dos filhos e netos, incutindo-lhes a fé e os bons costumes.   Chegou a afirmar que as avós são o presente mais precioso de Deus.  E é bom lembrar que essa sua predileção  pelas avós deve-se  ao fato de ele ter convivido de forma forte e assídua com sua avó, e aprendido dela as lições inesquecíveis de fé que, seguramente, iluminaram sua vocação.
          Há de se ressaltar a impecável organização do evento em Aparecida, tanto do ponto de vista religioso – escolha dos textos, cânticos, cerimonial – como sob o ponto de vista da lojística. Não foi registrado nenhum incidente.
          Que o Espírito Santo – inspirador da Igreja – ilumine o papa em suas palavras e diretrizes, e aos  jovens para que se abram ao  Amor de Deus e renunciem aos imperiosos chamados da vida moderna. Que se lembrem do caminho estreito por onde, muitas vezes, passa a salvação.