Com
imensa tristeza, noticiamos a morte da querida Irmã Francina. Nós, ex-alunas carmelitanas, lamentamos a
perda e recordamos sua figura dinâmica, alegre, comprometida com os ideais do
educandário e da congregação.
Viveu
em Caratinga no tempo áureo do Colégio do Carmo como professora de geografia e
educação física. E foi nessa última
disciplina que ela mais se destacou por realizar magníficos espetáculos de
ginástica no dia a dia e em ocasiões especiais. Disciplinadora de mão cheia,
suas exigências chegavam à perfeição. Tínhamos de usar uniforme limpo, completo,
bem passado e até as meias tinham de estar a determinada altura dos joelhos.
Para que a fila fosse impecável, ela ensinava: cada aluna deve olhar a nuca da
colega da frente. Os desfiles de 7 de
setembro e dia da cidade, eram brilhantes!
Ensaiava por muito tempo e se esmerava na condução da bateria. Contratou um soldado do tiro de guerra para
ensinar posições e movimentos das balizas e aperfeiçoar o toque dos bumbos e
taróis. Tudo por conta da grandeza que ela desejava conferir à apresentação. E
nosso Colégio do Carmo fazia bonito pela ordem e beleza. Aplaudido pelas
autoridades do palanque, arrancava elogios que nos deixavam orgulhosas e
motivadas para os próximos desfiles.
O
que mais nos causava admiração em sua maneira de ser, era a autenticidade de se
assumir como era. Não tinha, como a maioria das freiras, aquele ar religioso,
olhar calmo, sorriso piedoso, como convinha àquela época. Ela era inquieta,
ativa e usava até uma forma diferente de repreender. Certa vez, uma aluna lhe
fez uma malcriação. Para não levar castigo e com medo da fúria da Irmã, a
menina correu. Mas a freira, não podendo alcançá-la para aplicar-lhe uma
descompostura, como era seu estilo, não deixou por menos, pegou um apagador
cheio de giz e jogou na aluna. Diante da cena inusitada, a classe caiu na
gargalhada, e tudo virou brincadeira.
No
início de cada ano, fazíamos exames médicos para ver se estávamos aptas para as
aulas de educação física. Enquanto o Dr. Ércio Bamberg
auscultava o coração, Irmã Francina pesava a gente. Tínhamos de tirar os
sapatos para subir à balança. Então, era um deus- nos- acuda, pois muitas de
nós estávamos com as meias furadas.
Para não nos humilhar, ela fingia que não estava vendo, embora esboçasse
um risinho de quem via, mas não via.
Mercê
sua competência, sua experiência de verdadeira educadora, poder de liderança e
espírito empreendedor, foi diretora do Colégio do Carmo em época
posterior.
Embora distante daqui, nunca se esqueceu de
nossa terra onde, segundo dizia, foi o lugar que a tinha conquistado para
sempre. Lembrava-se de tudo acerca do
seu tempo entre nós. Citava nomes, recordava fatos e perguntava pelas amigas.
Notava-se o quanto seu coração ainda pulsava por todas nós. Cada encontro seu
com ex-alunas que a procuravam, era um reviver de emoções. Por tanto e por tudo, tornou-se inesquecível
e faz parte de nossa história em suas páginas mais fecundas. Dilena – seu nome de batismo – deixou-nos no
dia 21 deste mês, aos 85 anos de idade, e foi sepultada em Recreio, MG, sua
terra natal. Atualmente, vivia em Teresópolis. As Irmãs de seu convívio recente,
entristecidas, falam da generosidade e do companheirismo que nortearam sua
conduta. Era tesoureira e, com lucidez,
zelava pela economia e interesses da Instituição.
Indelével
ficará sua passagem entre nós e na vida de todos que a conheceram de perto e se
banharam na luz de sua alma. Nosso sentimento de pesar à família e à
congregação.
Hoje,
a saudade já se antecipa e buscamos suas lições, seu rosto simpático, seu jeito
de escutar e compreender. Mas, como na eternidade tudo está impresso,
seguramente sua missão, bem cumprida, e todo bem praticado estão inscritos no
coração de Deus. E é lá, aos pés do Pai,
envolvida no escapulário de Nossa Senhora do Carmo, plantando rosas com Santa
Teresinha, que ela hoje usufrui as belezas do Reino: todo aquele que deixa pai,
mãe e amigos, renuncia a si mesmo para seguir a Jesus, terá o cêntuplo nesta
vida e mais a vida eterna.