terça-feira, 25 de agosto de 2015

Irmã Francina


            Com imensa tristeza, noticiamos a morte da querida Irmã Francina.  Nós, ex-alunas carmelitanas, lamentamos a perda e recordamos sua figura dinâmica, alegre, comprometida com os ideais do educandário e da congregação.
Viveu em Caratinga no tempo áureo do Colégio do Carmo como professora de geografia e educação física.  E foi nessa última disciplina que ela mais se destacou por realizar magníficos espetáculos de ginástica no dia a dia e em ocasiões especiais. Disciplinadora de mão cheia, suas exigências chegavam à perfeição. Tínhamos de usar uniforme limpo, completo, bem passado e até as meias tinham de estar a determinada altura dos joelhos. Para que a fila fosse impecável, ela ensinava: cada aluna deve olhar a nuca da colega da frente.   Os desfiles de 7 de setembro e dia da cidade, eram brilhantes!  Ensaiava por muito tempo e se esmerava na condução da bateria.  Contratou um soldado do tiro de guerra para ensinar posições e movimentos das balizas e aperfeiçoar o toque dos bumbos e taróis. Tudo por conta da grandeza que ela desejava conferir à apresentação. E nosso Colégio do Carmo fazia bonito pela ordem e beleza. Aplaudido pelas autoridades do palanque, arrancava elogios que nos deixavam orgulhosas e motivadas para os próximos desfiles.
O que mais nos causava admiração em sua maneira de ser, era a autenticidade de se assumir como era. Não tinha, como a maioria das freiras, aquele ar religioso, olhar calmo, sorriso piedoso, como convinha àquela época. Ela era inquieta, ativa e usava até uma forma diferente de repreender. Certa vez, uma aluna lhe fez uma malcriação. Para não levar castigo e com medo da fúria da Irmã, a menina correu. Mas a freira, não podendo alcançá-la para aplicar-lhe uma descompostura, como era seu estilo, não deixou por menos, pegou um apagador cheio de giz e jogou na aluna. Diante da cena inusitada, a classe caiu na gargalhada, e tudo virou brincadeira.
No início de cada ano, fazíamos exames médicos para ver se estávamos aptas para as aulas de educação física. Enquanto o Dr. Ércio  Bamberg  auscultava o coração, Irmã Francina pesava a gente. Tínhamos de tirar os sapatos para subir à balança. Então, era um deus- nos- acuda, pois muitas de nós estávamos com as meias furadas.   Para não nos humilhar, ela fingia que não estava vendo, embora esboçasse um risinho de quem via, mas não via.
Mercê sua competência, sua experiência de verdadeira educadora, poder de liderança e espírito empreendedor, foi diretora do Colégio do Carmo em época posterior. 
Embora distante daqui, nunca se esqueceu de nossa terra onde, segundo dizia, foi o lugar que a tinha conquistado para sempre.  Lembrava-se de tudo acerca do seu tempo entre nós. Citava nomes, recordava fatos e perguntava pelas amigas. Notava-se o quanto seu coração ainda pulsava por todas nós. Cada encontro seu com ex-alunas que a procuravam, era um reviver de emoções.   Por tanto e por tudo, tornou-se inesquecível e faz parte de nossa história em suas páginas mais fecundas.  Dilena – seu nome de batismo – deixou-nos no dia 21 deste mês, aos 85 anos de idade, e foi sepultada em Recreio, MG, sua terra natal. Atualmente, vivia em Teresópolis. As Irmãs de seu convívio recente, entristecidas, falam da generosidade e do companheirismo que nortearam sua conduta.  Era tesoureira e, com lucidez, zelava pela economia e interesses da Instituição.

Indelével ficará sua passagem entre nós e na vida de todos que a conheceram de perto e se banharam na luz de sua alma. Nosso sentimento de pesar à família e à congregação.
Hoje, a saudade já se antecipa e buscamos suas lições, seu rosto simpático, seu jeito de escutar e compreender. Mas, como na eternidade tudo está impresso, seguramente sua missão, bem cumprida, e todo bem praticado estão inscritos no coração de Deus.  E é lá, aos pés do Pai, envolvida no escapulário de Nossa Senhora do Carmo, plantando rosas com Santa Teresinha, que ela hoje usufrui as belezas do Reino: todo aquele que deixa pai, mãe e amigos, renuncia a si mesmo para seguir a Jesus, terá o cêntuplo nesta vida e mais a vida eterna.  


             

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Festa do livro


          Dia 19 de setembro próximo, será o lançamento de dois livros meus para o púbico infanto-juvenil:  “Mãe com mel” e  “Cadê o palhaço?”  Uma homenagem às vovós e um mimo para os netinhos.
          Em ocasiões assim, tenho feito festa. Por vários motivos. Primeiramente, porque o livro merece. Não, necessariamente, o meu livro, mas o livro como veículo de conhecimento e prazer. Por sua importância na formação de crianças e jovens, penso ser justo festejar sua chegada e desejar que ele provoque encantamento e prazer.  Outro motivo para festas é que um espetáculo de arte, como sempre acontece em meus lançamentos, leva cultura,  beleza e aguça a sensibilidade.  E, por fim, é sempre agradável reunir amigos em torno de momentos bons.  Neste mundo de hoje, tão cheio de violência e lidas, nada melhor que inventar maneiras de celebrar e bendizer  o riso e a vida. Na verdade, o que se deseja é ver as crianças envolvidas com o livro. E, para se formar o hábito de leitura, vale a pena usar vários recursos  e empreender esforços.
          Convido as famílias, pois a criança sozinha, ou por si só, não costuma buscar o livro. Ela depende dos pais. Aliás, é na família que o gosto pelos livros começa e deve ser fomentado. É junto aos pais que os filhos presenciam os melhores exemplos.  Então, o apoio e a aprovação da família são o primeiro passo no incentivo à leitura e, consequentemente, ao crescimento do jovem leitor.
          Convido as escolas. Que passem o convite aos alunos com empenho.  A força do professor é primordial para que o aluno busque o livro e tenha vontade de ler.  A palavra do mestre e suas lições de vida, porque são plantadas com amor, ficam para sempre.  E, trabalhar a imagem da vovó, sua presença de ternura na família e sua importância nos dias de hoje, fazem parte de projetos de muitas escolas.
          O espetáculo será muito bonito! Artistas de casa e de fora darão seu recado no melhor estilo.  Escolas daqui participarão com números feitos com dedicação e graça.  De Belo Horizonte virá o balé Cristina Helena, uma das mais conceituadas academias de Minas Gerais.  Também, haverá roda de viola, poemas e palhaços.   Tudo para lembrar o carinho da vovó e festejar essa figura ímpar que mais parece mãe com mel.
          Convido todos para, juntos, vivenciarmos uma hora de homenagem e alegrias. Conto, mais uma vez, com minha terra, que nunca me negou a honra da essencial colaboração.


        

          

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Casa da gente


           As casas, edificadas para oferecer segurança e agasalho, mostram-se diferentes umas das outras. Há as que respiram a secura da terra, as que exalam o perfume das flores. Umas prolongam-se em varandas, outras miram o céu e se deixam beijar pelos ventos.  Muitas são caixas fechadas ao riso do sol, à brancura-prata dos luares.  Contrastando com os palácios das cabeças coroadas, existem os casebres cobertos de sapé com reboco e fogão a lenha.
Pequena, grande, simples, requintada. Não importa. A melhor casa do mundo – rica ou pobre – é a casa da gente. Um paraíso, cercado de paredes, que abriga, aconchega, confidencia, liberta.
Casa da gente é abraço de mãe a estender afagos, a dar boas-vindas sempre.  Cada canto canta um canto de paz.   É o único lugar  fechado onde se voa mais alto, onde se alcança os píncaros das lonjuras. Uma gaiola dourada onde o pássaro bebe a liberdade. Nela sonhamos, realizamos, viajamos aos mais longínquos espaços e alçamos, com ousadia, os mais arriscados voos. Como amiga preciosa, compartilha alegrias, tristezas, conquistas. Sem candongar nossas queixas, esconde-nos dos maus olhares, dos desafetos, até que possamos  sair  refeitos.  Sua sombra inspira canções, sacode medos, recupera doenças, celebra conquistas. É o remanso de sossegar a alma, os sentimentos, e permite que sejamos nós mesmos, sem artifícios ou formalidades, sem mostrar o que não somos.    
É o lugar de tirar os sapatos, desabotoar a roupa, desatar o nó da gravata, desapertar o cinto, sacudir a poeira, suspirar, reclamar, rir, gargalhar, repensar a vida, repartir a mesa sagrada da ceia de todos os dias.  Como um sacrário, faz a terra se encontrar com o céu no divino poder da oração: “Entra no teu quarto, fecha a tua porta, e lá estarei contigo.” Ensinou o Mestre sem casa que, por missão e sacrifício, não teve um lugar para recostar a cabeça.  
Casa de amigos, de mãe, de avó, de filho. Por melhor que seja a recepção e os agrados, nada se compara à casa onde tecemos o ninho.
Muitas vezes, no correr dos dias, a casa se torna um lugar comum. E só lhe avaliamos a grandeza, quando nos ausentamos dela.  Ao sair de viagem, por exemplo, a alegria nos invade. A expectativa de conhecer novos lugares, novos amigos, novos horizontes, enche-nos de entusiasmo.  Vamos visitando lugares, encantando-nos com as belezas, até que o coração aperta e, com o passar dos dias, dá uma vontade imensa de voltar. Aí, o pensamento busca pedaços de nós e costumes vividos. Lembramos nosso quarto, a sala de televisão, o sofá da leitura prazerosa, o livro de cabeceira e até a santinha ao lado da cama. Essa angústia amorosa chama-se saudade da casa da gente.  A alegria da saída torna-se menor do que a alegria da volta.  E, ao abrirmos a porta, a casa inteira nos recebe como o pai recebeu o filho pródigo do evangelho: “Venha! Tenho para você a melhor veste, um anel para os dedos e calçados para aos pés.”
            Lances da vida mostram-nos a importância da casa da gente. Pelas histórias da vida real, sabemos do frequente desabafo de doentes graves: “Doutor, meu maior desejo é voltar pra casa.” E quando voltam, não querem divertimentos, viagens ou passeios. Querem voltar e, simplesmente, ficar.  Também, os que moram em casa dos outros, sabem como é difícil estar sempre incomodando e se sentindo fora do lugar. Vivem momentos inacabados à espera de, um dia, ter o completo encontro com o próprio coração.
Andarilhos, sem casa, andam vagando, olhar cismadores e tristes. No entanto, os que se abrigam debaixo de pontes ou em qualquer cantinho, não querem sair, mesmo quando assistentes sociais desejam levá-los. Uns experimentam adaptar-se nas casas abrigadoras, mas acabam fugindo e voltando. Então, são acusados de ingratos, de pessoas que não sabem escolher o que é bom. Mas, por detrás, está o mistério de amar o cantinho que lhes é querido por aquietar a miséria. Mesmo ao relento, o precário lugarzinho escolhido é a casa deles.
            Lembrei-me de uma velha canção chamada Vingança. O autor, não conseguindo aceitar a recusa ou traição de seu grande amor, diz praguejando: “Você há de rolar como as pedras que rolam na estrada, sem ter nunca um cantinho de seu pra poder descansar.” Poeta sensível,  sabe que  a tristeza e o desalento tomam conta da alma de quem não tem um cantinho de seu.


domingo, 2 de agosto de 2015

Prêmio literário


A Academia Caratinguense de Letras – instituição a que pertenço – instituiu o prêmio Marilene Godinho de literatura. É uma homenagem que me honra e emociona por constituir um incentivo ao meu trabalho e pela finalidade do concurso.
Agradeço a deferência que me enaltece, mas faz-me pensar se realmente a  mereço.   O pensamento que me ocorre para justificar o elogio é levar em conta a bondade dos acadêmicos, considerar a importância e o objetivo do certame, mais a grandeza do gesto. Sabemos dos grandes benefícios advindos do fomento à literatura. Incentivar a leitura e a escrita é meta da família, da escola e da sociedade, pois ler e escrever levam ao conhecimento, em cuja bagagem estão o saber, a formação, a liberdade.
Iniciativa louvável. Os concursos literários não só revelam talentos, como suscitam nos concorrentes o desejo de continuar escrevendo.  Todo aquele que se aventura na escrita, acaba rendido à magia de revelar ideias e brincar com as mil possibilidades da palavra. É um jogo, uma fantasia, um colorido que aguçam a imaginação e cativam o espírito.  
Grandes escritores foram revelados em concursos literários. Muitos atestam o quanto foi bom participarem de prêmios de redação em sua escola ou em sua cidade, quando crianças ou jovens. A semente fica na terra fértil da imaginação e, mais cedo ou mais tarde, brota e floresce.
Sobre os jogos Pan Americanos de 2015, especialistas falam da grande importância das disputas escolares na formação de futuros atletas. Assim, também, acontece com as competições literárias. Num âmbito menor pode-se, com facilidade, vislumbrar e desenvolver o potencial de crianças e jovens.  E ao adquirir o gosto pela escrita, os benefícios se farão sentir para além do concurso. O binômio ler-escrever credencia qualquer pessoa na vida cotidiana e frente ao mercado de trabalho.
Agradeço a Academia Caratinguense de Letras por vincular meu nome a uma iniciativa que me é tão grata e preciosa.
Fico torcendo para que a participação seja grande, entusiasmada e enriquecedora. Caratinga, berço de artistas e escritores, não pode fugir à vocação. É possível que desse concurso saiam autores com talento para  empreender  altos voos. Os participantes verão como é bom escrever e colocar o coração no papel.