quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Campanha da Fraternidade


O texto-base da campanha da Fraternidade 2021 tem causado indignação e polêmica. A CF sempre foi realizada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e considerada um momento importante na espiritualidade católica.
A primeira Campanha da Fraternidade foi realizada em 1962 em Natal, Rio Grande do Norte. Depois, a CNBB continuou na realização da CF, que sempre ocorre na quaresma. A cada 5 anos é promovida de forma ecumênica, incluindo outras denominações cristãs. Os textos que norteiam a Campanha têm constituído um documento importante porque o tema escolhido sempre define a realidade concreta a ser transformada, apresentando também um lema que explica em que direção se busca a transformação.
Este ano a CFE não foi feita pela CNBB. Foi entregue ao CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), que reuniu pessoas de várias religiões dando um sentido ecumênico. O tema é: Fraternidade e diálogo: compromisso de amor. O lema é: Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade.
Os que não concordaram com a CFE de 2021 alegam que o texto, as entrelinhas, os argumentos não correspondem aos ideais da Igreja Católica. Fazendo parte do CONIC para essa tarefa, seria justo haver valores católicos. Acham que não há nem o estilo nem a espiritualidade do catolicismo. Logo de início, analisando os componentes do CONIC, vemos que dois padres católicos fazem parte dele, os outros sete pertencem a outros credos. Ressaltam, ainda, que a presidente-geral é a Pastora Romi Márcia Bencke, muito criticada por ser a favor do aborto, da teoria de gênero e outras práticas condenadas pela igreja católica. Ela não seria a pessoa indicada para o ofício de redatora sendo figura de destaque do CONIC.
No texto há referência a uma grande alegria ocorrida em 2017: a comemoração dos 500 anos da Reforma. Lembrando que a Reforma marcou o cisma causado por Lutero.
Há referências às mulheres que acompanharam Jesus e o ajudaram na missão. Não houve nem mesmo uma simples citação do nome de Maria, mãe de Jesus. Nem nesse parágrafo, nem em nenhum outro. É um lapso imperdoável, sabendo do grande amor e respeito que o catolicismo dedica à Maria.
Quando o CONIC procura exemplificar pessoas e fatos sobre a violência, citam Mariele Franco e a população LGBTQI.
O cardeal Dom Odílio Scherer se posicionou em defesa da Campanha, dizendo que é preciso que sejamos capazes de aceitar sem preconceitos. Alertou que é uma Campanha Ecumênica. Depois de ampla defesa, disse que até ele mesmo não concordava com certos pontos do documento.
Já o bispo Dom Odair José Guimarães foi totalmente contra em sua mensagem. Disse que o melhor a fazer é esquecer esse documento, pois tudo que vai contra os valores da Igreja católica, não prospera, como aconteceu com a Teologia da Libertação.
Li muitas vezes o texto-base. Muito bem redigido, contendo informações valiosas e estatísticas que norteiam as propostas. As citações do evangelho são precisas para elucidar os fatos de antes frente aos de hoje. Entendo que há, realmente, um discurso não condizente com os ensinamentos da Igreja católica.
Penso que nós, católicos, não devemos nos deter nas diferenças. Não podemos prejudicar nossa quaresma – tempo de penitência, oração e conversão, caridade. Prepararmos para a Morte e Ressurreição de Jesus com o espírito de amor, mas jamais nos esquecermos que ecumenismo é respeitar as diferenças, sem abrir mão de nossos valores. Com certeza, na próxima Campanha da Fraternidade, a CNBB estará mais cuidadosa e teremos a alegria de reviver a espiritualidade e as propostas que sempre marcaram as Campanhas anteriores.
Marilene Godinho

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