Com
devoção e esperança, a Igreja recorda a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus,
por meio das quais Ele salvou a humanidade de seus pecados.
Voltemos
ao tempo de Jesus e lembremos sua morte motivada pelos poderosos e governantes que
não aceitaram a pregação do Mestre. Sua doutrina representava mudanças. E as
grandes e importantes figuras da época não queriam mudanças, tão contrárias à
conduta reinante. Os opositores não suportaram a pregação coerente de Jesus,
pautada na verdade e na justiça. Seus ensinamentos ameaçavam a força política
da época, os poderosos para os quais não era conveniente soltar as amarras do
poder e do dinheiro.
Vejamos.
Ensinava a partilha de alimentos e de bens materiais. Os possuidores de bens e
fortunas não queriam despojar-se das riquezas.
Lembremos aquela passagem em que um jovem rico perguntou a Jesus o que
deveria fazer para entrar na vida eterna, já que ele cumpria todos os
mandamentos e se considerava um pessoa correta. Jesus, então, disse-lhe que
vendesse tudo o que tinha, repartisse o dinheiro com os pobres e o seguisse. O
jovem ficou entristecido porque era rico, e seguiu o seu caminho.
Ensinava
servir a todos os necessitados: “Não vim para ser servido, mas para servir.” O
reis e governantes em vez de lutar pelo bem, tiranizavam o povo.
Outra
conduta decepcionante para os poderosos: o ideal da fraternidade universal que
sugere o amor para com todos, pecadores e inimigos. Qual rei daquela época,
acostumado ao abuso de poder e a maltratar os inimigos, suportaria seguir esta
proposta: “Quando te baterem na face, dá-lhes a outra.” Ou então aceitar o que está
escrito em Mateus 18-21: “Senhor, quantas vezes eu devo perdoar meu irmão? Até
sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes
sete.”
Muitos,
então, não aceitavam Jesus. Principalmente os fanáticos, os poderosos, os
violentos e os hipócritas. Os fanáticos – aqueles que não mudam, ainda que seja
para o bem de todos. Criticaram Jesus
por ter curado em dia de sábado. Ele perguntou: “Há alguém entre vós que tendo
uma única ovelha e esta cair num poço no dia de sábado não irá procurar e
retirar? Arrematou dizendo: “É pois permitido fazer o bem no dia de sábado.” Jesus
colocou os pobres, pecadores e os enfermos acima do sábado, como para mostrar
que a salvação e a felicidade de todos são mais importantes que as
convenções. Os poderosos eram os que
mais o rejeitaram. Em João (11 – 47,48) vemos: “Os pontífices e os fariseus
convocaram o conselho e disseram: Que faremos? Este homem multiplica os
milagres. Se o deixarmos proceder assim, todos crerão nele, e os romanos virão
e arruinarão nossa cidade e toda a nação.”
Também os violentos figuravam no
rol dos desafetos, e sabiam usar a força: “Pilatos para satisfazer o povo
soltou-lhe Barrabás e entregou Jesus, depois de açoitado, para que fosse
crucificado (Mateus 15-15). Os
hipócritas não conseguiram enganar a Jesus: “Ai de vós, doutores da lei, que
dais aos homens pesos que não podem carregar, mas vós mesmos nem sequer com um
dedo vosso tocais os fardos” (Lucas 11-46).
E em outra passagem Ele chamou os fingidos de sepulcros caiados. Maquiam
o rosto com ares de bondade para esconder a maldade de dentro.
Recordando,
ainda, esses fatos memoráveis, celebramos na quinta–feira santa a instituição
da eucaristia. Reuniu os apóstolos na última ceia, benzeu o pão dizendo: “Isto
é o meu corpo que será entregue por vós”. Benzeu o cálice e disse: “Isto é o
meu sangue, sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós para
remissão dos pecados. Fazei isso em
minha memória.”
Depois
de condenado, Jesus orou ao Pai e, cheio de profunda angústia, suou sangue que
escorreu pela terra. Sofreu açoites, coroação de espinhos e, ao peso da cruz,
subiu ao calvário. Ironizado pelos soldados e, entre dores atrozes, gemidos e
solidão, exclamou: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito.” Houve trevas e tremores de terra. Os que assistiam
ao martírio disseram: “Este é de fato o Filho e Deus.” Depois de três dias de sua morte, ressuscitou. Para espanto dos
amigos, os lençóis estavam espalhados no túmulo vazio. Depois de subir aos céus
à vista dos apóstolos, enviou-lhes o Espírito Santo.
Hoje,
passados mais de dois mil anos, a humanidade continua crucificando-o. Mas o
exemplo de sua paixão está vivo a nos exortar e surpreender.
Em
nossos dias, o apego aos bens materiais continua presente impedindo-nos de
abrir as mãos em ajuda concreta. A corrupção de políticos e governantes tira-nos
a certeza de dias melhores. A hipocrisia dos palanques em que as promessas
ficam só nos discursos, revolta-nos. Quantas falcatruas para não dar lugar aos
honestos. Fidelidade é coisa do passado.
E a violência? Já se tornou corriqueira gerando um descaso total com a vida
humana. Barbaridades são cometidas a cada hora sem a devida punição. Tudo como
nos tempos passados. Com antes, também hoje, o povo depende dos que governam e,
por isso, vive pagando impostos sem retorno, sem Saúde e Educação. Só nos resta, para não perder a esperança,
viver a eucaristia e fazer dela o nosso alimento de ânimo e fé. Viver a Páscoa
com a alegria de quem acredita na força do milagre.
Enquanto
não chega o júbilo da Páscoa, vamos nos detendo na cruz do Cristo e pensando
nas palavras de Santo Agostinho: “Vale mais uma lágrima de piedade derramada em
memória da Paixão e Morte de Cristo do que fazer mil peregrinações a Jerusalém
e jejuar durante um ano.” Confiando na misericórdia e no poder do sangue
redentor de Jesus, desejo a todos, uma feliz e santa Páscoa.
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